sexta-feira, 28 de maio de 2010

IX CONCURSO JOVEM LITERÁRIO DA CÂMARA MUNICIPAL DE ÍLHAVO

TEXTO NARRATIVO-1º LUGAR





AVENTURA NAS ILHAS AFORTUNADAS



Corre o ano de 1729 e quem está no poder é sua magnificência D. João V. Eu sou o Dinis Vasconcelos de Albuquerque e Aragão, capitão-mor da Nau Vasco da Gama.


Um dia, chegou-me uma carta a dizer que iria comandar uma nau até ao Brasil, onde seria carregada de diamantes e voltaria a Portugal. Então, no dia 15 de Maio, zarpei do porto de Lisboa rumo ao Brasil numa viagem que iria demorar dois meses. Já passou um mês desde que saímos do porto de Lisboa e há poucos dias escrevi uma carta à minha família, que mora em Portugal, a dizer que a viagem estava a correr bem e que daqui a poucos meses iria estar em casa com eles. Finalmente cheguei ao Brasil. Era tão movimentado como Lisboa. Enquanto carregavam a nau com os diamantes eu resolvi dar uma volta pela cidade. Encontrei muitas semelhanças com Lisboa e, infelizmente, uma delas era a pobreza da maior parte da população. O país tinha muita vegetação. Quando cheguei ao porto, a nau já estava carregada e pronta a zarpar. À medida que nos afastávamos, fiquei a ver o porto brasileiro ao fundo no horizonte.


Numa noite escura e fria, vinda do nada, surgiu uma tempestade catastrófica. Eu mandei os meus homens baixar as velas, mas era tarde de mais. O vento empurrou a nau contra uma rocha solitária no meio do oceano, fazendo um rasgo no casco grosso mas ao mesmo tempo frágil daquela grande embarcação que, durante décadas, conquistou todos os mares do mundo e que agora encontrou descanso eterno no fundo do oceano.


De manhã, acordei sozinho numa praia deserta de areia branca, numa ilha também deserta. Pelo menos era o que eu pensava. A primeira coisa que fiz foi construir um abrigo para o caso de a tempestade voltar e, de seguida, fui explorar a ilha para ver se encontrava água ou comida, tentando sobreviver naquele lugar desolado e inóspito do mundo. Peguei num pau, numa pedra e numa liana e consegui fazer um machado. Subi a uma palmeira de onde cortei as folhas para fazer o telhado do meu abrigo e também os cocos para beber a sua água. Rapidamente se fez noite e resolvi acender uma fogueira para manter os animais selvagens afastados. Adormeci depressa, porque estava cansado.


Durante a noite, acordei com um pequeno estalido de um ramo a partir. De repente, do nada, apareceu uma sombra vinda da selva. Quando a luz incidiu na cara daquele estranho eu fiquei estático. Era o Sebastian Williams, um rapaz britânico que há muitos anos foi ter comigo à procura de emprego no meu navio, onde o aceitei. Agora era o meu actual imediato. Ofereci-lhe de beber e de comer e imediatamente ele aceitou. Contou-me que foi derrubado por uma onda quando estava a subir ao mastro principal para baixar a vela e caiu ao mar. Também me contou que foi arrastado até uma praia deserta do lado oposto da ilha e que a atravessou à procura de comida e de habitantes. Conversámos durante horas até que, vencidos pelo cansaço, adormecemos.


Pouco tempo depois acordámos com o nascer do sol. Decidimos dar outra volta à ilha para recolher mais mantimentos e para ter a certeza de que estávamos sozinhos. Enquanto andávamos na selva encontrei um papagaio que não conseguia voar porque tinha uma asa partida. Então peguei nele e levei-o connosco para o abrigo. Novamente se fez noite. Eu tentava ajudar o papagaio, enquanto o Sebastian estava a preparar a fogueira e a assar um peixe que tínhamos apanhado nas águas cristalinas da ilha. Adormecemos pouco depois, mas acordei logo a seguir sem sono. Vi que o Sebastian já estava a dormir e o papagaio também. Quando me levantei, senti uma coisa no bolso: era um pequeno livro que andava sempre comigo. Tirei-o e li o título: Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões. Grande escritor, grande poeta português! Sempre me inspirei nas suas obras, especialmente n’Os Lusíadas. Li uma parte do canto I e depois adormeci.


Passaram-se dias e noites na mesma rotina monótona. Um ia arranjar mantimentos e o outro ficava a tomar conta do papagaio e a ver se passava ali alguma embarcação. Os dias passaram a semanas, as semanas a meses e os meses a anos, sempre nesta rotina. Certo dia, reparei que o papagaio já conseguia voar. Então peguei nele e soltei-o. Vi-o desaparecer na linha do horizonte e logo a seguir regressar na minha direcção. Fiquei estupefacto! Ele escolhera ficar connosco em vez de poder voar livre com os da sua espécie durante toda a vida. Nessa noite, como não consegui dormir, fiquei a olhar o luar e o céu estrelado e a pensar na minha família que devia estar com imensas saudades minhas. Mais uma vez o sol levantou-se com todo o seu esplendor para iluminar a manhã. Desta vez, ficámos os dois na praia a olhar o mar. Avistámos uma embarcação a passar ali perto. Levantámo-nos depressa e começámos a acenar. Por sorte eles viram-nos. Enviaram um pequeno bote para a praia para nos levar para aquele barco gigantesco. A primeira coisa que eu perguntei quando cheguei foi em que ano é que estávamos. Responderam-me que estávamos em 1739. Tinham passado dez anos após termos chegado àquela praia. Levaram-nos ao capitão. Era um homem alto, de olhos azuis e cabelo preto repuxado atrás a fazer um rabo-de-cavalo. Disse-me que era Fernão de Noronha Teles Henriques. Quando acabámos de falar com ele, levaram-nos aos que seriam os nossos quartos. Tinham pequenas arcas trancadas que eu imaginava cheias de diamantes e de ouro. Vesti uma camisola de linho bege e umas calças de cetim castanhas para ir para o convés. Cheguei à borda da nau e olhei o mar, sempre sem parar de pensar na minha família.


Dois meses depois, avistei ao longe o porto lisboeta. Quando atracámos, vi a minha família que me esperava. Todos correram para me abraçar. E assim, na minha casa, junto dos meus entes queridos, termina a história de uma das minhas muitas aventuras.



Gonçalo Teixeira,Nº 11, 6º F

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